sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

REVELAÇÃO DO RN LUTAM PARA CONSTRUIR A CARREIRA NO FUTSAL FEMININO

Isabelle Souza - Jogadora do Expansivo (Foto: Luiz Henrique/GloboEsporte.com)Os traços na história das estudantes Isabelle Souza e Giselly Oliveira reservam semelhanças e diferenças que se cruzam nas quadras de futsal. Ambas são jogadoras do Expansivo Colégio e Curso, vice-campeão da terceira divisão dos Jogos Escolares da Juventude, e estão prestes a embarcar para a cidade de Brusque, em Santa Catarina, para fazer parte da equipe Barateiro. É um passo imenso em busca do sonho de se tornarem atletas profissionais. Oriundas de pequenas cidades do interior nordestino, as duas enfrentaram o medo, a família e a distância e, agora, tateiam as primeiras oportunidades concretas para seguir carreira no futsal.
Isabelle Souza é a mais velha das duas. A menina de 16 anos cresceu na praia de Manibu, em Icapuí, no Ceará. Foi aos 10 que Bella, como prefere ser chamada, começou a brincar de jogar bola nas areias da praia junto com os meninos que ali residiam. Aos poucos, tomou gosto pelo e começou a fazer parte de uma equipe escolar dois anos depois, quando foi estudar no município de Tibau, no Rio Grande do Norte. Foi, então, o início de sua participação em campeonatos
Bella despertou atenção de alguns clubes quando iniciou a jogar nas quadras escolares e chegou a ser convidada para fazer testes no Santos. Deu certo, mas a família não permitiu a ida da menina para o clube paulista. A tristeza pela recusa a fez reconhecer que a quadra era ponta de lança do seu futuro e, desde então, as oportunidades são agarradas como se fossem as últimas. Quando surgiu o convite para morar em Natal e defender o Expansivo, em 2014, ela não hesitou em aceitar e lutar para convencer seus pais. A ida para Santa Catarina segue o mesmo caminho.
Giselly Oliveira - Expansivo (Foto: Reprodução/ Inter TV Cabugi)
- No futebol as coisas aparecem e somem muito rápido. Quando recebi o convite para jogar no Expansivo, eu disse logo que vinha. Eu morava em Manibu, no Ceará, mas estudava em Tibau e disputava os Jerns - Jogos Escolares do Rio Grande do Norte. O professor fez o convite e eu vim. Agora é se preparar para ir para Santa Catarina. A família já está aceitando mais... Eu estou indo em busca da realização de um sonho - conta Isabelle.
Ao contrário de Isabelle, Giselly Oliveira cresceu longe das praias e iniciou no futebol a partir de um projeto social do Governo Federal em 2004, quando tinha 7 anos de idade. Nascida em uma família pobre de São Bento do Trairi, município localizado no Agreste Potiguar, Giselly jogava nos campos de barro da cidade apesar de todas as adversidades. Sem dinheiro para adquirir material esportivo, nem mesmo as solas dos pés arrebentadas a faziam ficar longe do futebol. Então, percebeu a evolução da habilidade com a bola e viu a chance de ajudar a mãe e as duas irmãs a partir da carreira de jogadora.
- Quando recebi o convite do Expansivo, minha mãe não gostou muito porque sou menina e no interior tem aquela coisa de que futebol é coisa de menino. Mas vim, deu certo, fui campeã brasileira nos Jogos Escolares de 2015 (o Colégio Expansivo se sagrou campeão na categoria sub-14) e neste ano fui vice-campeã. Minha mãe fica com medo quando eu digo que vou para Santa Catarina porque é longe, fica perguntando 'e se acontecer alguma coisa lá?', mas é o que escolhi - falou Giselly, de 15 anos.
O responsável pela mudança das duas do interior para Natal se chama Kedson Gomes, professor de futsal do Expansivo. A partir de um trabalho desenvolvido há anos, ele observa atletas nos Jerns e oferece bolsas de estudos aquelas que apresentam um bom rendimento. O foco é, sobretudo, o interior do estado. A iminência da ida de Isabelle e Giselly para Santa Catarina é vista com orgulho por Kedson ao avaliar que o estado é um celeiro do futsal feminino.

Colégio Expansivo - Futsal Feminino (Foto: Luiz Henrique/GloboEsporte.com)

- Elas estão indo para um clube mundialmente conhecido, que é o Barateiro. O time já foi campeão da Libertadores no futsal feminino, tem a melhor jogadora do mundo, que é a Amandinha, também nordestina. A estrutura do Sul do país é maior que a do Nordeste em relação ao futsal e, se depender de mim, elas já estão lá. Eles têm um grande centro de treinamento e reúnem muitas meninas. Não revelam muitas jogadoras, mas reúnem - afirmou Kedson.
Na capital potiguar, a permanência das duas não é fácil. Isabelle chegou a morar com uma tia, mas neste ano passou a morar sozinha. Como agora reside no bairro de Candelária, na zona Sul da cidade, a estudante precisa acordar às 5h30 para chegar ao Expansivo, na zona Norte, às 7h; retorna para casa para almoçar e ao ginásio do colégio para o treino de futsal. À noite, tenta cadenciar o tempo para jantar, estudar e dormir cedo para não se sentir esgotada no outro dia. Do outro lado, Giselly mora com a tia no bairro de Felipe Camarão, na zona Oeste, e também precisa fazer duas viagens ao colégio, para as aulas e os treinos. Para ambas, o que sustenta esse aperto na rotina é o sonho de serem jogadoras.
- A gente tem que lutar para conseguir isso. O futebol é muito difícil, a gente sabe. É muito difícil morar sozinha e longe aos 16, mas é um sacrifício que eu faço. É isso que eu quero e vou até o fim - desabafa Giselly.

FONTE: globoesporte.com/rn

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