quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

ATLETAS DE LUTA OLÍMPICA DO RN SOFREM AMEAÇAS DO PRESIDENTE DA FEDERAÇÃO

Atletas potiguares da luta olímpica afirmam sofrer perseguição e ameaças do presidente da Federação de Luta Livre, Luta Olímpica e Submission do Rio Grande do Norte (Fellos-RN), Carlos Alexandre Sobrinho. A causa é a discordância em relação ao aumento da taxa de anuidade para os atletas que recebem Bolsa Atleta do Governo Federal, que passou de R$ 50 em 2016 para R$ 940 neste ano
Em um áudio de Alexandre Sobrinho, que circula no WhatsApp, o qual o GloboEsporte.com teve acesso, o presidente afirma para o atleta potiguar Jonatas Nóbrega que é o dono da federação e que todos têm que seguir o que ele quer.
RN - Ameaças da Federação de Luta Livre (Foto: Reprodução)
- Quem não quiser (pagar o valor da taxa de anuidade), poder ir para outro estado. Aqui, eu deixo bem claro que vai ser do meu jeito. Quem é bolsista (Bolsa Atleta) vai pagar. Se tu não pagar, tu não viaja, nem tem clube, nem ninguém. Ou faz do meu jeito, ou não tem Bolsa estadual ou federal. Isso eu vou deixar claro para todo mundo: a federação é minha. Eu sou o dono da federação e quem manda sou eu. Não tem ninguém aqui (no Rio Grande do Norte) capaz de tocar a Luta Olímpica como eu. Eu sou o dono. Não ajudou a federação, não quer cooperar, tchau - falou Alexandre ao atleta por meio de mensagem.
As declarações do presidente tiveram início no dia 3 de fevereiro. Na data, o novo valor de anuidade foi repassado para os atletas e clubes filiados por Allan Vieira, que estava na coordenação de arbitragem da federação. Quando souberam da taxa de R$ 940, alguns atletas discordaram e Allan pediu para o presidente reavaliar o valor. Foi quando começaram as mensagens em tom de ameaça por meio de áudio e texto.
Segundo Alexandre Sobrinho, o novo valor seria utilizado para cobrir os custos que a entidade tem e permitir a realização de ações que visem a qualificação dos atletas potiguares. A recusa dos atletas foi vista como má vontade de ajudar a federação e o esporte no Rio Grande do Norte. Por sua vez, o tom da resposta teria sido em "um momento de ira".
- Nós combinamos que os atletas bolsistas iriam ajudar a trazer um técnico cubano e custear as viagens para campeonatos brasileiros. Como é que uma federação sem fins econômicos vai viver? Em um momento de ira eu disse 'já que pago as contas, eu sou o dono', fui mal interpretado e peço desculpas porque perdi a cabeça. Não é que eu mande, é que eu trabalho muito, sou gestor formado e tiro da minha empresa para ajudar a federação - respondeu ao GloboEsporte.com.

DIÁLOGO E TRANSPARÊNCIA

O valor de R$ 940 para atletas que possuem bolsa foi determinado em uma reunião o dia 22 de dezembro de 2016. Na ata desta reunião, consta como presentes o presidente da federação e a diretoria - os membros da diretoria executiva da Fellos também são representantes de clubes. Não houve participação dos atletas na decisão que aumentou as taxas, contrariando o que há no estatuto da federação - onde está prevista a necessidade de um representante dos atletas nas assembleias gerais.
No histórico da federação, o caso não é isolado. Os atletas acusam a falta de diálogo e transparência em toda gestão de Alexandre Sobrinho, que se perpetua há 12 anos na presidência. Segundo o GloboEsporte.com apurou, reuniões não são avisadas com a devida antecedência e prestação de contas junto com os atletas não é feita. Há uma caixa preta nas receitas e despesas da Fellos que causa receio por parte dos atletas em aceitar um aumento tão grande em um ano.
Em outro áudio, enviado para Allan Vieira, o presidente pede para que os atletas fiquem calados para não se comprometerem nas competições nacionais.
- Avise para o seu amigo ficar calado, no canto dele, porque senão ninguém viaja aqui - afirma o presidente em áudio enviado para Allan Vieira.
Depois do conflito, Allan decidiu sair da coordenação de arbitragem em solidariedade aos atletas.
- Depois da confusão, ficou insustentável a convivência com ele (Alexandre) e decidi sair. Não tem diálogo. O aumento foi repassado para mim e eu repassei para os clubes e atletas. São muitas desmandos, ameaças e exigências indevidas. Não dá para tratar os atletas de forma abusiva - afirmou o ex-coordenador.

REALIDADE DOS ATLETAS PERSEGUIDOS

Jonatas Nobrega - atleta potiguar da luta olímpica (Foto: Divulgação)Os principais afetados pelo aumento são os atletas da categoria de medalhistas nacionais. A maior contestação, no entanto, não é o valor, mas a realidade encontrada no Rio Grande do Norte - contrastante com o aumento. Jonatas Nóbrega, atleta potiguar com participação no mundial de luta olímpica e vice-campeão brasileiro da modalidade em 2016, precisa procurar técnico em outros estados para treinar. Outros atletas que tiveram boa participação nacional em 2016, como Wagner Menezes e Lucas Leocádio, sequer contam com treinadores e também fazem coro às reclamações.
- Nos passaram taxas exorbitantes para que pudéssemos competir. Mas a federação não nos proporciona lugar para treinar, treinamento e não nos ajuda com viagens. Além das taxas serem exorbitantes, esses gastos são mal explicados - declarou Jonatas.
Outra ameaça feita por Alexandre Sobrinho foi extinguir a categoria sênior. Fazem parte desta categoria os atletas que discordaram do valor estabelecido pela federação. Assim, ficariam de fora das competições nacionais e perderiam o benefício da Bolsa. Os potiguares continuariam apenas com as categorias de júnior, cadete e escolar - encerrando uma possível carreira no estado. Caso arriscassem se transferir para atuar por outro estado, seria preciso pagar até R$ 3.500 (preço estabelecido para atletas campeões mundiais).
- Se quiser eu acabo com o sênior. É um direito que consiste em mim e no regimento interno (da federação) - ameaça Alexandre, no mesmo áudio enviado para Allan Vieira.
Ramon Denier - arbitro da luta olímpica (Foto: Divulgação)O árbitro potiguar Ramon Denier é outro que afirma sofrer perseguições de Alexandre Sobrinho. Ramon começou a se dedicar à luta olímpica em 2012, foi para o Rio de Janeiro se especializar em arbitragem e conseguiu chegar a United World Wrestling, entidade internacional da modalidade. No entanto, não conseguiu se firmar no Rio Grande do Norte por interferências do presidente. A relação era boa até 2014, quando Alexandre discordou de uma decisão da arbitragem.
- Alexandre acredita que o presidente tem influência direta em todos os aspectos. No primeiro evento que estava arbitrando (no Rio Grande do Norte), uma criança agrediu verbalmente uma técnica e outras pessoas e eu o desclassifiquei por atitude antidesportiva. O presidente invadiu o tapete aos gritos e disse 'aqui não vai ter roubo', passando por cima da decisão dos árbitros. Em outro dia, com ele mais calmo, conversei que a arbitragem era um grupo independente e não pode sofrer interferência nas decisões em competições. Ele respondeu 'no meu estado mando eu, se não gosta, saia' - declarou Ramon.

POSICIONAMENTO DA CBW

Pedro Gama Filho - presidente da CBW (Foto: Reprodução/ Inter TV Cabugi)
A Confederação Brasileira de Wrestling prefere por não interferir na situação do Rio Grande do Norte. Cada federação age independente da confederação - com suas próprias normas e regras. O presidente da CBW, Pedro Gama Filho, disse que está "aconselhando" Alexandre a repensar as atitudes, mas não pode exigir os valores da anuidade.
- Recebi o áudio, mas a CBW não se intromete nas políticas das federações. Posso aconselhar e até conversei com ele sobre o assunto, mas as federações são independentes. Eu espero que seja repensado esse caso e que os atletas continuem tendo apoio, como sempre tiveram. Eu creio que ele vai repensar - afirmou o presidente da CBW.

Fonte: globoesporte.com/rn


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