quarta-feira, 1 de julho de 2015

ABC X SANTOS: 49 MIL PESSOAS PARA O DUELO ENTRE ALBERI E PELÉ EM 1972

header ABC 1 - centenário (Foto: Thiago Assis)
Durante o Campeonato Nacional de 1972, a torcida do ABC se acostumou a ver de perto, nos gramados do recém inaugurado Castelão, os melhores times do Brasil e seus craques. Mas a tabela, que havia sido feita exatamente para trazer as grandes equipes para os menores centros do futebol brasileiro, reservou ao torcedor abecedista o melhor para o final. Estava marcado para o dia 29 de novembro daquele ano o duelo contra a temida equipe do Santos, que ainda tinha em seu ataque a presença de Pelé, então campeão mundial com a seleção canarinho em 1970 e já coroado "Rei do Futebol".
Pelé e Alberi se cumprimentam antes da partida entre ABC e Santos (Foto: Ribamar Cavalcante/ Acervo Pessoal)Pelé e Alberi se cumprimentam antes da partida  (Foto: Ribamar Cavalcante/ Acervo Pessoal)
No dia do jogo, a cidade parou. O grande evento causou inclusive alguns contratempos para quem queria ir ao Castelão assistir à tão esperada partida entre as duas equipes alvinegras. O ex-árbitro Cézar Virgílio, na época repórter de rádio, fez a cobertura do jogo de dentro do gramado e se lembra que não haviam mais táxis disponíveis na cidade. Segundo ele, quem quisesse assistir à partida, não importando de onde viesse, tinha duas opções: ir de carro ou a pé. E não é para menos. Neste dia o Castelão recebeu seu maior público: cerca de 49 mil pagantes, com mais de 50 mil pessoas presentes. 
Em campo, as duas equipes vestiam seus uniformes tradicionais: o ABC com sua camisa listrada e o Santos com seu uniforme todo branco. Do lado do Santos, o técnico era Pepe, jogador que brilhou com a camisa do Peixe, enquanto Edu e Pelé comandavam o ataque. No ABC, Maranhão, Libânio e Alberi eram os destaques da equipe. Alberi, inclusive, recebeu o prêmio Bola de Prata ao final daquela temporada, como um dos melhores jogadores do campeonato. Capitão do Mais Querido, o zagueiro Edson teve a ingrata missão de marcar o xará mais famoso do mundo. O hoje economista ressaltou as qualidades do eterno camisa 10 e afirma que teve que se conter para não tietar o "Atleta do Século".
Pelé foi o mais completo que o mundo já conheceu. O que você pensar que um jogador pode fazer de bem feito ele fazia: tinha velocidade, chutava bem com as duas pernas, era um grande cabeceador, era catimbeiro e tinha um grande porte físico. Então, eu era fã dele, mas eu me contive. Eu pense: 'Não, ele aqui é o meu adversário' - revelou Edson.
O ABC conseguiu suportar a pressão do Santos durante todo o primeiro tempo, muito graças à solidez defensiva da equipe. Porém, logo nos primeiros 10 minutos da segunda etapa, com gols de Edu e Pelé, a equipe paulista se impôs e fez valer o favoritismo. Com a dura missão de parar Pelé, Edson exalta seu companheiro de zaga e revela que respeitou o Rei do Futebol ao longo da partida.
Capitão Edson - zagueiro do ABC no tetra de 70 a 73 (Foto: Ribamar Cavalcante/Arquivo Pessoal)Capitão Edson marcou o xará famoso em 1972 (Foto: Ribamar Cavalcante/Arquivo Pessoal)
- Eu tive um companheiro de zaga muito bom, que era o Nilson Andrade, que era mais alto do que eu, magro, jogava demais. Ele me ajudou muito. Eu fiquei preocupado. 'Não vou levar um drible desmoralizante aqui, senão eu tô frito', pensei. Mas foi um jogo que transcorreu normalmente. Eu respeitei Pelé em uma jogada, em uma dividida com ele. Eu fiquei com medo de machucá-lo. Imagina eu lesionar o rei? Eu ia ficar com um peso na consciência. Eu poderia ter ganho o lance se eu fosse um pouco mais duro, mas eu nunca fui um zagueiro maldoso, inclusive fui expulso somente três vezes em campo durante toda a minha carreira, e sempre com problemas com o juiz. Apesar disso, nas divididas eu entrava sempre para ganhar, não importava quem fosse. Mas por respeito ao Rei do Futebol eu fui mais devagar - revela Edson.
Natal parou para ver o Rei do Futebol
O Santos chegou a Natal com pompa de super time, apesar de não ter mais aquele elenco que marcou época na década de 60, com Durval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe, uma escalação que todo mundo sabia de cor e que ficou na memória de todo brasileiro apaixonado por futebol naquele tempo. Apesar disso, era uma equipe muito consistente, que vinha embalada pela goleada de 4 a 0 aplicada no rival Corinthians na rodada anterior. Como a maioria das equipes que vieram jogar contra o ABC naquele ano, o time santista se hospedou no Hotel Reis Magos, o melhor hotel da cidade na época, localizado na Praia do Meio.   
Time do Santos que enfrentou o ABC em 72 (Foto: César Virgílio/ Acervo Pessoal)

Cézar Virgílio foi designado para fazer a cobertura das duas equipes naquela oportunidade. Segundo ele, o jogo foi um grande evento, não só para os times e para a torcida, mas também para a imprensa esportiva do estado. Desfrutando de uma memória irretocável, Cézar relembra uma situação envolvendo Pelé que ainda hoje o emociona.
César Virgílio entrevistando Pelé (Foto: César Virgílio/ Acervo Pessoal)Cézar Virgílio entrevistou Pelé antes da partida (Foto: Cézar Virgílio/ Acervo Pessoal)
- O Santos foi sair para treinar no antigo Castelão e tinha um público do lado de fora do hotel tentando quebrar o bloqueio de seguranças. No meio desse povo tinha uma velhinha, uma senhora com os seus 70 anos, por aí. Ela gritava e tentava falar com os jogadores, e o pessoal continuava a se empurrar tentando fazer o mesmo. Os jogadores iam entrando no ônibus sem problemas. Quando Pelé estava para entrar no ônibus, ele avistou essa senhora no meio do povo. Na mesma hora ele pediu que os seguranças abrissem caminho para que ela passasse, e ela passou. Na porta do ônibus, Pelé perguntou a aquela senhora o que ela queria, e ela respondeu dizendo que gostaria somente de falar com ele e lhe dar um abraço. Foi quando Pelé pegou a camisa de treino, que ele usaria no treinamento do Castelão, e deu a ela. O pessoal bateu palmas e a senhorinha ficou que não se aguentava de alegria. Até hoje quando eu lembro dessa situação eu me emociono. Esse tipo de comportamento e esse tipo de ação é que caracterizam o carisma do Pelé, que elevou ele ao status de ídolo - conta Cézar. 
FONTE: globoesporte.com/rn

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