Depois de um jejum de quatro anos sem vencer o campeonato estadual, o
América-RN chegou ao ano de 1973 como representante do Rio Grande do
Norte no Campeonato Nacional, após a suspensão do rival ABC. Na época,
era como se fosse a Série A do Brasileirão, disputada por 54 clubes.
Entre eles, 16 times das regiões Norte e Nordeste se enfrentaram também
pela Taça Almir de Albuquerque, em jogos que valiam pelos dois torneios.
Com um elenco formado por Hélcio Jacaré, Ivan Silva, Scala, Mário
Braga, Santa Cruz e companhia, o Alvirrubro conquistou então, de forma
invicta, o seu primeiro título regional. Foram sete partidas sem perder,
quase todas jogadas no antigo Estádio Castelão, em Natal. O troféu
histórico da única edição da Taça Almir é guardado hoje na sede do clube
ao lado da taça da Copa do Nordeste de 1998, outro feito histórico e
bastante comemorado pelos americanos.
Na briga contra Rio Negro, Bahia, Nacional-AM, Sport, Vitória,
Tiradentes, Fortaleza, Santa Cruz, Ceará, Remo, CRB, Sergipe, Moto Club,
Náutico e Paysandu, o Mecão teve a melhor campanha em pontos corridos,
ficando com o caneco. O América terminou com 11 pontos, apenas um à
frente do segundo colocado, o Rio Negro - seguido de Bahia e Nacional.
Foram quatro vitórias e três empates, com 11 gols marcados e quatro
sofridos.
Apontado como o melhor lateral-direito da história
do América, Ivan Silva estava naquele time que conquistou o Nordeste. O
passe do então garoto da cidade de Três Rios, no interior do Rio de
Janeiro, pertencia ao Madureira. Com 23 anos, ele chegou a Natal
emprestado pelo Ferroviário para disputar o Campeonato Nacional de 73.
Hoje, aos 64 anos, Ivan destaca um gostinho especial pela Taça Almir.
O América teve a oportunidade de jogar com grandes clubes e
fomos campeões invictos! Foi muito emocionante para mim, até porque eu
não tinha nenhum título nacional ou regional. Foi meu primeiro título
como profissional e guardo isso no currículo com muito orgulho até hoje.
Na minha história como jogador, é uma marca particular bastante forte -
conta Ivan.
Já contratado, o multifuncional Ivan -
que jogou também como zagueiro - permaneceu no América até 1983 e
colecionou títulos estaduais: foi bicampeão em 74 e 75, novamente
campeão em 77 e tetra de 79 a 82. Quando parou de jogar em 1983, com
apenas 33 anos, Ivan ainda exerceu as funções de treinador - do Alecrim,
inclusive - e árbitro de futebol, por sete anos.
MÁRIO BRAGA E A PARCERIA COM SCALA
A experiência de Mário Braga também foi importante para essa conquista. O zagueiro, que havia jogado no Flamengo por seis anos na década de 60, foi um dos ferrolhos da defesa americana ao lado de Scala, já falecido. Braga ainda seria campeão estadual três vezes pelo América até encerrar a carreira em 77 com a camisa rubra. Aos 71 anos, o capixaba de Cachoeiro de Itapemirim continua morando em Natal e não esquece da parceria com o companheiro de zaga, nem da marcante passagem que teve no time alvirrubro.
Troféu da Taça Almir está guardado na sede do América (Foto: Klênyo Galvão/GloboEsporte.com)
- - Eu cheguei para disputar o Campeonato Nacional da época e já estava definido que íamos jogar a Taça Almir. Era um Nordestão disfarçado (risos). Era o mesmo jogo valendo para as duas competições. Foram vários jogos que marcaram muito nossa memória. Lembro muito da minha parceria com Scala… A gente dividia a faixa de capitão. Foi uma época muito boa. E mesmo com todo respeito que tenho pelo Flamengo, digo que no América tive uma das passagens mais brilhantes da minha carreira - admitiu.
A
conquista do torneio promovido pela Revista Placar teve grande
repercussão na mídia nacional e virou motivo de orgulho para os
potiguares. Segundo o pesquisador e ex-jogador Ribamar Cavalcante,
aquele foi um dos maiores elencos montados pelo América Futebol Clube em
sua caminhada centenária, com destaque para o sempre lembrado Hélcio
Jacaré. Unanimidade entre os torcedores, o meia-atacante da camisa 10
foi o grande ídolo alvirrubro entre 73 e 76.
- A conquista do título da Taça Almir até hoje permanece na memória da
família alvirrubra. Considero uma das maiores conquistas da história do
América, que viveu uma das melhores fases na década de 70. A partir da
conquista, a
equipe passou a ser respeitada pelos grandes clubes do nosso país. Todos
os jogadores se destacavam pelo alto nível técnico, mas sempre tem
um que a torcida admira mais. E o Hélcio era fora de série! Dentro de
campo, o líder era ele. Com muito talento, ele comandou o América, que
tinha um elenco fabuloso com Scala, Mário Braga, Ivan Silva, Ubirajara e
Santa Cruz - disse o
pesquisador.
Pôster da Revista Placar com o América campeão da Taça Almir em 73 (Foto: Reprodução)
Na campanha que culminou no título, o América empatou com Rio
Negro na estreia, no dia 25 de agosto de 73, venceu Sergipe e Ceará, e
teve outro empate, diante do Santa Cruz. Depois, superou o Remo fora de
casa e empatou com o Vitória em Natal. No dia 27 de outubro, encerrou
sua participação na Taça Almir com uma vitória sobre o Náutico, no
Castelão.
Já se passaram 42 anos do feito americano e ainda
hoje os campeões daquela época são lembrados por terem levantado a taça,
levando o América-RN a ser o primeiro clube do estado a ser campeão
regional. Ivan Silva garante que o reconhecimento, tantos anos depois,
só aumenta o orgulho de ter defendido as cores vermelha e branca.
-
É uma emoção muito grande quando, depois de mais de 40 anos, você ainda
é lembrado por uma conquista. Qualquer ex-jogador de futebol ficaria
muito feliz e muito emocionado em relembrar sua história no ano do
centenário do clube. Tem jogador que sofre muito pelo esquecimento. Ser
lembrado, e bem lembrado, por um grande título, é muito importante para
nós - disse Ivan, emocionado.
almir pernambuquinho
Almir jogou no Santos bicampeão mundial (Foto: Reprodução / Livro 'Na Raça' - Editora Realejo)
A
Taça Almir foi uma homenagem da Confederação Brasileira de Desportos
(atual CBF), criada pela Revista Placar, ao atacante pernambucano Almir
Morais de Alburquerque. O jogador foi assassinado em um bar na zona Sul
Rio de Janeiro em fevereiro de 1973. O polêmico Almir Pernambuquinho
começou a carreira no Sport em 1956, foi ídolo do Vasco no fim da década
de 50, jogou no Corinthians, Boca Juniors, Fiorentina, Genoa e Santos,
quando foi bicampeão mundial em 1963. Almir teve ainda passagem pelo
Flamengo e pelo América do Rio, onde encerrou sua carreira, em 1968.
A
competição que homenageia Almir teve uma única edição, disputada por 16
equipes do Norte-Nordeste conjuntamente com o Campeonato Nacional, no
ano da morte do ex-meia e foi conquistada de forma invicta pelo
América-RN.
FONTE: globoesporte.com/rn
Nenhum comentário:
Postar um comentário